A loucura de ser mãe.

Hoje é aniversário da minha Gabriela. Sete aninhos.
Lembro do parto como se tivesse sido ontem. Fiquei em trabalho de parto por três dias por burrice da obstetra. Eu disse desde a primeira consulta pré-natal que não poderia ter outros filhos e que queria fazer a laqueadura de trompas. Baseada na DPP (data prevista para o parto), marcamos a cesariana.
Já aos 9 meses, comecei a ter contrações numa sexta-feira no fim da tarde. Como já era minha segunda gestação, fiquei com medo do trabalho de parto evoluir rápido e liguei para a médica.
Ela me mandou encontrá-la no consultório e após um exame disse que não havia porque correr, e que quanto mais tempo o bebe permanecesse na barriga melhor. Ainda faltava, segundo ela, 15 dias e que provavelmente era larme falso, "dor de acomodação" conforme ela disse.
Bom, eu não sou médica, mas não é preciso ter QI de Einsten para deduzir que contrações significam que o útero está forçando o bebe a sair.
Enfim, voltei pra casa e passei o fim da sexta com as contrações aumentando, o sábado inteiro dia e noite com as contrações cada vez mais fortes e ainda o domingo já em repouso me contorcendo de dor. Na noite de domingo eu não dormi.Andei pela casa a noite toda chorando de dor.
Pela manhã tomei um banho e o tampão do meu útero saiu na toalha.
Liguei para a médica que me mandou imediatamente para a maternidade.
Após o toque ela constatou que havia dilatado 6cm e mandou prepararem a sala para a cesariana com urgência.
A Gabriela não chorou quando nasceu e estava toda roxa. Foi aquela correria.
Perguntei o que estava acontecendo mas só me respondiam " nada, está tudo bem".
Os pediatras cuidavam da Gabriela e em menos de 20 minutos a médica me fechou e me tiraram da sala.
Fui para o quarto e aguardei. Anestesiada e sem os movimentos das pernas, nada mais podia fazer senão esperar e orar.
Nem sei quanto tempo passou. Minutos, horas...Não sei.
Até que finalmente a porta abre e entra a enfermeira com um embrulhinho pra mim no colo.
Eram 48cm de gente vestida de amarelo. Parecia um pintinho.
Não mamou, nem chorou. A Gabriela dormiu nas primeiras 24 horas e eu deveria ter feito o mesmo, mas preocupada fiquei de guarda a noite toda para ver se ela respirava.
Mas quando ela resolveu abrir a boca, não fechou pelos próximos 6 meses. Ô menina chorona meu Pai...
Tudo incomodava a Gabriela. Carrinho, berço, colo... No desespero comprei um andador. Enfiei ela naquele troço aos 6 meses. E finalmente ela se calou.
Nunca sofreu um acidente. Eu andava atrás dela o tempo todo.
Hoje a Gabriela é um doce de criança. Tem o raciocínio rápido como uma flecha. Me embaralha com suas perguntas inesperadas e me desconcerta com suas respostas sempre tão lógicas e seguras.
As vezes, parece mais que a criança sou eu.
Meu maior objetivo como mãe é fazer das minhas filhas exemplos de pessoas Cristãs.
Criança não conhece grife, nem palavrão, nem pornografia, não nasce preconceituosa e nem egoísta. Todo esse lixo somos nós quem colocamos dentro delas.
Aqui em casa tudo é monitorado. Os programas de TV, o acesso à internet, os livros e revistas.
Assim que aprenderam a ler, eu e meu marido demos fim a todo tipo de material com informações que elas ainda não estão praparadas para ter.
Na escola elas ouvem muita coisa e chegam em casa cheias de dúvidas. Tudo é respondido com a verdade, de uma forma que consigam entender sem violar a inocência delas.
Quando minha filha me perguntou o que era ser virgem, eu respondi que dependia do que se tratava.
"Uma pessoa virgem é uma pessoa que nunca foi casada, um CD virgem é um em que nada foi gravado, uma terra virgem é onde nada foi plantado". Respondi não respondi?
O meu maior medo é que elas se tornem preconceituosas,principalmente porque estudam num colégio particular em meio à crianças que nasceram em berço de ouro, que tem tudo o que querem na hora que querem e que não são educadas pessoalmente por seus pais. Vivem com bábás e elas não tem essa obrigação de educar, apenas de cuidar. Obviamente não são todas, mas a maioria.
Eu faço testes as vezes. Busco imagens no google de pessoas de etnias diferentes, brancos, negros, asiáticos e mostro a elas. Outro dia consegui uma foto de duas crianças juntas, uma negra e uma branca. Dois meninos. Perguntei:" Olha aqui filha, dois amiguinhos. Qual a diferença entre eles?"
Aí ela olhou...pensou...pensou e respondeu:
"O da direita está de boné." E saiu saltitando.
Eu sorri feliz e agradeci a Deus por ter conseguido por mais um dia.
E é assim, dia após dia, consertando em casa o que o mundo estraga na rua.
Ser mãe é maravilhoso, mas que não é fácil, não é mesmo!